quinta-feira, 20 de agosto de 2009

HIGH PLAINS DRIFTER

Dia agitado ontem. Se era aniversário completado em ano de roadtrip, nada mais emblemático do que ter sido o dia em que mais milhas cobri no percurso: 274. Parece pouco, mas ir parando pra fotos, gasolina, comida e outros eventos indeterminados, como visita a museus e compras, acabam contabilizando umas 12 horas úteis, até escurecer. E mais um marco: cheguei à exata metade do caminho, em Adrian, TX. Mas isso foi ontem. Estou em Grants, NM, neste momento, e amanhã promete ser cheio. A meta é conseguir ver logo a Floresta Petrificada, no Arizona, mas ainda falta passar por Gallup e outras cidades até Holbrook, onde pretendo dormir. Não tenho muitas pretensões de conseguir alcançar Flagstaff antes do sábado. O show do Depeche Mode em Phoenix domingo é o grande evento do finde, logo todos os planos têm que girar em torno dele, já que a cidade é bem fora da Rota.

De Amarillo, dei uma passada no Cadillac Ranch, onde todos são incentivados pelos donos/artistas a pichar os carros, e deixei minha marca (olhem o segundo carro). Pé na estrada, uma deliciosa torta "Ugly Crust" no Midpoint Café, em Adrian, e cruzei a fronteira com o Novo México. A chuva do dia anterior tinha deixado vários trechos com lama ou poças ou alagados, então dirigir devagar era preciso às vezes. Mas deu pra chegar na hora do almoço na cidade de Tucumcari, que, em linguagem indígena, é o que eles dizem quando vão ao dentista. Ui.

Lá aconteceu uma cena bizarra, que de alguma forma vai entrar no meu livro. Parei numa livraria à beira da estrada, dentro da cidade, pra ver o acervo, mais por curiosidade do que intenção de comprar. Era até razoável e acabei comprando algo, mas o mais interessante era uma seção exclusiva só para serial killers e histórias de crimes verdadeiros. Sinistro. Aí fui checar a escondida seção de pornôs (também era uma revistaria). Tinha um malandro lá dentro com uma cara de cholo, uns 50 anos, desdentado e mulambo. Eu conferia os atributos da Sasha Grey na capa de um DVD quando ele virou pra mim e disse:

- Você acha que isso vale 10 dólares? Em sua mão, um consolo de uns 30 cm.

Nesse momento de milissegundos, pensei que se respondesse algo do tipo "como eu poderia saber?", ele malandramente insinuaria algo. Respondi um simples "não sei" e ele emendou com um "minha esposa está querendo experimentar..." Vazei logo dali com medo de uma proposta de threesome, porque a vida real não é "Harold And Kumar Go To White Castle", e se o cara era o Freakshow, com certeza a mulher não deveria ser a Malin Akerman.

Um trecho longo de estrada (I-40, que obliterou boa parte da Rota nesse trajeto) e dormi em Moriarty, no Sunset Motel, onde o gerente garantiu que era um dos únicos hotéis da Rota administrados pela mesma família há mais de 50 anos, informação que nenhum de meus guias confirmou. Bom, o banheiro pelo menos era uma graça de estilo retrô, bem ajeitadinho.

Hoje foram só 35 milhas até Albuquerque, mas foi lá que passei a maior parte do meu dia. E não tinha como deixar de ser. Excluindo Chicago, que é metrópole, foi a cidade mais linda que vi pelo caminho! Foda em todos os gêneros:
1) Meu primeiro café decente desde Oklahoma City (Starbucks, claro);
2) a cidade mistura a arquitetura moderna e atual com a espanhola, que a colonizou, e a indígena, cujas reservas a circundam. A Old Town, onde a cidade nasceu, é uma imensa vila espanhola, com TODOS os prédios, casas, lojas (mais de 150!!) no estilo da época, com uma praça central cercada dos principais prédios e a igreja. E a área residencial é idêntica. Imagina você morando hoje numa casa assim. Ou assim.
3) Downtown também é incrível: prédios enormes como o do Wells Fargo contrastando com o pitoresco KiMo Theatre, cuja arquitetura mistura art-déco com a indígena, num estilo que chamaram de "pueblo déco". Ah, a Suzanne Vega tocaria lá hoje.
4) Nob Hill, um bairro moderninho cheio de lojas, cafés e restaurantes legais, bem parecido com o Loop de St. Louis. Não adianta, tô adorando a viagem, acho ótimo ver as ruínas de postos de gasolina na estrada e tal, mas sou mesmo é urbano: tenho um imenso prazer em sentar num café e ver meninas bonitas passarem tomando um latte, acessar a rede de qualquer ponto com wi-fi, comprar CD's e comics e gastar os tubos na Urban Outfitters.

Depois de ver cascavéis no Rattlesnake Museum e ficar até com pena de ter assustado a pobre coitada (o chocalho demonstra que ELA está com medo de você, não é pra atacar), peguei a estrada, já no final da tarde, e vim parar aqui, depois de uma paisagem bem característica dos filmes de faroeste, com plateaus avermelhados ao longe, deserto com vegetação e até regiões com lava endurecida. Ao contrário de ontem, poucas milhas rodadas, mas queria ter aproveitado mais Albuquerque. Certeza de que havia muito mais coisas a descobrir.

Amanhã interrompo um pouco isso aqui e posto lá no outro blog o resumo do terceiro dia do Lollapazooza.

ALEATÓRIAS:

1) Você sabe que está no Texas quando uma família de faisões, com pai, mãe e faisãozinho, atravessam a estrada beeeem devagar, eu paro o carro completamente, e eles nem te dão bola;

2) O pessoal do Departamento de Trânsito do Novo México é lerdo demais, ou os motoristas são portugueses. Qualquer pessoa que não saiba a diferença entre faixa amarela pontilhada e contínua pra se atravessar o carro da frente nem deveria tirar o carro da garagem. Pois bem, não só eles têm as faixas, como ao lado DE CADA mudança de faixa,,dos DOIS lados da pista, placas com "PASS WITH CARE" (pontilhada), "DO NOT PASS" (contínua) e, só pra reforçar um tantinho assim, outra com "NO PASSING ZONE" no lado oposto da estrada, junto desta última.

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